Adaptado de EL PAÍS - BRASIL
Autor: Luiz Ruffato
A opressão militar é uma máxima dos governos no Brasil, em qualquer esfera, senão veja:
Governo de São Paulo abuso de poder militar nas manifestações de Junho de 2013
Maio de 2015 - Governo do Paraná utilizando-se de poderio militar desnecessário contra professores desarmados reivindicando seus direitos.
Leiam a seguir depoimento de Jornalista do El País sobre a burrice das elites brasileiras governantes:
A
inaceitável repressão policial aos professores do Paraná, comandada pela
Polícia Militar e referendada pelo governador Beto Richa (PSDB), é,
infelizmente, apenas mais um capítulo da trágica história da promíscua relação
da elite brasileira com o aparato do Estado. E aqui deixo claro que entendo
como “elite brasileira” não só aquela velha minoria – cerca de 10% da população
– que detém 75% de toda a riqueza do país, e, por consequência, exerce desde
sempre o Governo de forma direta ou por meio de prepostos, mas também a nova
classe política que, ascendendo de movimentos populares (sindicatos,
associações) ou pronunciando-se em nome de igrejas evangélicas, tomba
emaranhada no cipoal de corrupção que caracteriza a nossa estrutura de poder.
Parece
não haver dúvida – pelo menos a maioria dos discursos, amadores ou
profissionais, convergem para a mesma solução – de que para o Brasil
desatolar-se do pântano em que está afundado e ancorar-se em terra firme teria
que investir em uma ampla e vigorosa reforma educacional. Se começássemos hoje,
talvez conseguíssemos salvar a próxima geração. Mas esse projeto, sempre
adiado, acabou nos envolvendo em uma frustrante sensação de que somos, em uma
festa, aquele sujeito inconveniente que todos evitam e que apenas gera piadas e
comentários desabonadores entre os outros convidados.
Quando
em 1985 os militares deixaram o poder, após 21 anos de ditadura, o país estava
em ruínas. A inflação ultrapassava os 200% ao ano, a dívida externa girava em
torno de 54% do Produto Interno Bruto (PIB), o desemprego alcançava 9% da
população economicamente ativa e os sistemas de educação e saúde encontravam-se
desmantelados. Pior que tudo, sem perspectivas, os jovens começaram a deixar o
país. Estima-se que 1,5 milhão de pessoas tenham ido embora para os Estados
Unidos, Japão, Portugal e outros países da Europa.
Cerca de
15 anos depois, com o crescimento do PT e a instalação de Luiz Inácio Lula da
Silva na Presidência da República, notou-se um movimento de regresso ao Brasil
– as embaixadas chegaram a deslocar diplomatas para orientar os retornados, tal
a demanda. Pouco durou, no entanto, esse entusiasmo. A sucessão de escândalos
envolvendo membros da cúpula do PT confirmou o que o escritor e teólogo Frei
Betto denunciava há tempos, que o partido trocou um projeto de governo por um
projeto de poder.
A
educação vem sendo tratada, desde tempos imemoriais, como uma questão de
sobrevivência da nossa elite, ou seja, o mais eficaz mecanismo de perpetuação
de seus privilégios – econômicos, políticos, culturais. Se é verdade, e é, que
o governo petista modificou com ousadia e coragem alguns aspectos do ensino
superior – o aumento substantivo de vagas nas universidades públicas, o
estabelecimento de cotas raciais e sociais, o financiamento de alunos em
universidades privadas – é também verdade que, no que concerne à instrução
básica, a situação é desoladora.
Ocupamos
os últimos lugares no ranking que avalia o desempenho escolar no mundo: cerca
de 10% da população permanece analfabeta e 20% são classificados como
analfabetos funcionais – ou seja, um em cada três brasileiros adultos não tem
capacidade para ler e interpretar os textos mais simples. As instituições
públicas de ensino básico funcionam, na maioria das vezes, em ambientes
degradados, com professores desestimulados por conta da baixa remuneração,
pequena inserção social, insalubridade, etc, e ainda atormentados pelo medo,
medo dos alunos, medo dos pais dos alunos – a ditadura militar conseguiu
destruir na sociedade civil a crença na importância da autoridade. Não é tão
diferente o quadro nas escolas privadas, cujas mensalidades podem ultrapassar
os 1,5 mil dólares: arrogante, a nossa elite trata os mestres de seus filhos
como subalternos, não como aliados.
Baixa
instrução é sinônimo de ignorância. E ignorância é incapacidade de diálogo, é
opção pela violência. De cada 100 assassinatos ocorridos no mundo, 13 ocorrem
no Brasil – proporcionalmente, ocupamos o 11º lugar geral no ranking de
homicídios. Somos ainda o sétimo lugar entre os países com maior número de
mulheres vítimas de violência doméstica, taxa média de 4,5 assassinatos por
grupo de 100 mil habitantes, com um saldo, na última década, de 50.000 mulheres
mortas. Outras 50.000 pessoas, em sua maioria mulheres, são estupradas por ano.
Também por ano acumulamos mais de 120.000 denúncias de maus-tratos contra
crianças e adolescentes e 313 homossexuais são mortos por conta de suas opções.
Baixa
instrução é sinônimo de ignorância. E a ignorância leva a uma enorme
predisposição para relativizar princípios éticos. A corrupção, cujo custo anual
alcança cerca de 2% do total do PIB, é uma praga que atinge toda a sociedade.
Herança de uma certa mentalidade colonial, que toma como privado o bem público,
que desdenha o valor do trabalho e que leva em consideração apenas seus
interesses pessoais, a cultura da corrupção contamina as instituições federal,
estadual e municipal, contagia os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário,
infecciona o tecido social. O chamado “jeitinho brasileiro”, do qual muitas vezes
nos orgulhamos, nada mais é que uma maneira de cometer ilegalidades no dia a
dia, envolvendo dinheiro, tráfico de influência ou troca de favores.
Baixa
instrução é sinônimo de ignorância. E ignorância é a inabilidade para construir
raciocínios sofisticados. Como pensar é exercício penoso, acabamos optando pelo
fácil, mas arriscado, caminho da lógica binária. Reduzimos o mundo a um
confronto insano entre forças do bem e do mal, sendo que nós e todos os que
defendem pontos de vista semelhantes aos nossos representamos o bem, enquanto o
mal incorpora-se naquela massa informe que diverge de nossas opiniões. Assim,
tornamos rasas nossas discussões, mesquinhas as reivindicações, belicosas as
contestações, medíocre a sociedade. Acuados, pouco a pouco nos enterramos em
trincheiras fundamentalistas que nos conduzem de maneira rápida e irreversível
à barbárie.
Baixa
instrução é sinônimo de ignorância. E ignorância é um dique que erguemos para
deter o desenvolvimento econômico. Dos adolescentes brasileiros de 15 a 17
anos, apenas 44% frequentam o ensino médio. Na população de 18 a 24 anos, um
terço chega à universidade, mas 39% ainda encontram-se no nível médio e 16% no
fundamental. Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas, 15% dos jovens que
entram no mercado de trabalho sem completar o ensino fundamental estão
desempregados e 30% têm emprego sem carteira assinada. Cada ano de escolaridade
nos ensinos médio e superior eleva a renda per capita em meio ponto percentual.
A falta de instrução adequada emperra o crescimento do país pela falta de mão
de obra qualificada.
Segundo
dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, um
professor em início de carreira no ensino público fundamental brasileiro
recebe, em média, 10.000 dólares por ano – três vezes menos que a média
salarial dos países membros daquela associação. No Paraná, um professor recebe,
em regime de 40 horas semanais, 2.400 reais, e um policial militar, 3.600
reais. Um professor educa e instrui, um policial militar reprime. Richa é uma
jovem liderança – no próximo dia 29 de julho completará 50 anos – e nome de
destaque entre os tucanos. Provavelmente, vamos ouvir falar muito dele ainda.
Entre professores e policiais militares, o governador demonstrou sua
preferência.
O
problema não é que ele pense deste jeito – o problema é que assim pensa nossa
elite burra.
Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2015/05/04/politica/1430760460_690735.html
Autor: Luiz Ruffato


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