sexta-feira, 5 de julho de 2013

Analista político Antônio Augusto avalia a atual conjuntura política do país

O governo tem que sair do isolamento, se articular com setores de sua base social, pois apesar de estar fazendo uma boa gestão está perdendo a guerra da comunicação, Antônio Augusto Queiroz Jornalista e diretor do Diap 


O jornalista e analista político Antônio Augusto Queiroz, o Toninho, diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), avalia que a atual conjuntura política do país e pede atenção para algumas medidas já votadas pelos deputados e senadores ou prometidas por eles e pelo governo federal que não resolvem plenamente os problemas apontados pelos protestos. Em alguns casos, as demandas ainda não tiveram sequer solução prevista.

A maior motivação das manifestações, segundo enfatizou, foi uma indução da população através da mídia a serviço do mercado que está contrariado com a redução da taxa de juros e que intensificou a ideia de que as conquistas obtidas estão ameaçadas. Esta estratégia criou um pavor na sociedade (classe média) e originou o “denuncismo” como arma política. “A mídia, a serviço do mercado que está contrariado, inflamou a sociedade através da ideia original do mercado que fez o denuncismo como arma política. No primeiro momento apontando casos como o mensalão, CPIs etc. Chamou atenção, mas não fragilizou o governo. Depois a partiram para a exposição das falhas do serviço publico (o que surtiu mais efeito); e agora veio a segunda fase que é mostrar a desorganização financeira do governo o que levou o povo às ruas”, analisou.

Para o analista, o ambiente vivido hoje pelo país é de pura indignação quase que generalizado onde a sociedade protesta; o mercado discorda das orientações do governo em torno das concessões públicas e do tratamento do mercado financeiro; e do próprio congresso que tem tido resistência à postura governamental. Na visão dele é um momento muito delicado para o Brasil pela disputa econômica sempre existente no diálogo político. “É um ambiente de muita apreensão e preocupação onde você tem de lado a classe média envolvida pelo processo e os manifestantes, integrados principalmente pela juventude com idade em torno de 20 anos e que não tem elementos de comparação para chegar à conclusão de que a vida dela vai ser pior que a vida dos pais quando havia inflação, falta de acesso a bens, regime militar e etc.”, ponderou.

Contra avanços
Numa análise mais detalhada sobre esta indução da mídia promovida pelo mercado Antônio Queiroz afirmou que o governo está sendo questionado pelo mercado pelo o que está fazendo de bom para a sociedade como, por exemplo, a imposição da universalização dos serviços públicos, da conquista da PEC do trabalho doméstico que causou um desconforto a classe média e ainda a limitação das margens de lucros das empresas prestadoras de serviços e a redução da taxa de juros. “As manifestações vieram para ficar, serão em menores quantidades, mas mais pulverizadas e ficarão até 2014 onde serão fortalecidas pelas eleições e pela Copa do mundo. O governo tem que sair do isolamento, se articular com setores de sua base social, pois apesar de estar fazendo uma boa gestão está perdendo a guerra da comunicação”, finalizou.

Três crises

Para o analista político, o país passa por três crises diferentes: a falta representatividade - a população não se sente representada pelos políticos e entidades; crise de valores - as pessoas acham que o dinheiro público está sendo mal aplicado; e uma crise de qualidade de prestação de serviço público.
Hoje o que está havendo é uma prevalência do poder econômico em relação à formação do poder no Brasil.

Como há o financiamento privado de campanha, os parlamentares e os governantes de um modo geral, considerando o custo elevado das campanhas, dependem desses apoios, e isso com certeza, traz uma situação de constrangimento para esses parlamentares. “Enfrentar todas ao mesmo tempo não será uma tarefa fácil e isso vai ter reflexos na eleição presidencial, onde a presidente que estava no topo das pesquisas agora apresenta uma queda de popularidade”, comentou.

A “carona” observada na inclusão de itens diversos às matérias votadas pela Câmara e pelo Senado (PEC 37; corrupção passiva como crime hediondo; cura gay, etc.) é comum nos parlamentos de todo o mundo em momentos semelhantes ao que vive o Brasil. Para ele, no entanto, a presidenta Dilma Rousseff tem o poder de vetar e deve analisar, com cuidado, o que pode vir a ser considerado excesso, oportunismo, conveniência ou contrário ao interesse público.

Encontro
Na noite de ontem, membros do Sindicato dos Servidores da Justiça do Estado do Maranhão (Sindjus/MA) realizaram o primeiro dia do encontro que envolve as diretorias de todos os outros sindicatos representativos dos trabalhadores do judiciário do País e da Federação Nacional dos Servidores dos Judiciários dos Estados (Fenajud), para discutir a posição da categoria diante do presente ‘cenário’ político nacional. A categoria ainda se reunirá hoje e amanhã no auditório do Hotel Holliday In. O painel de abertura contou com a participação de Toninho que analisou a atual conjuntura política que tem muito a ver com os trabalhadores do judiciário que defendem leis conjuntas

AS POLÊMICAS

Confira quais são os entraves do pacote de reivindicações, promessas de medidas e projetos aprovados como respostas às manifestações.

Plebiscito
São grandes as divergências no Congresso a respeito da ideia de se fazer um referendo ou um plebiscito sobre a reforma política. A proposta também encontra resistência no Judiciário

Contratação de médicos estrangeiros

O anúncio feito pela presidente Dilma de contratação de "milhares" de médicos estrangeiros gerou críticas de entidades de saúde. O Ministério da Saúde anunciou que o edital de chamamento para médicos trabalharem na periferia e no interior do país deve sair ainda este ano

100% dos royalties do petróleo para a educação
Aproveitando os protestos, Dilma Rousseff pressionou o Congresso a aprovar a destinação de 100% dos royalties para a educação. A Câmara, no entanto, aprovou 75% para a educação e 25% para a saúde. O projeto ainda será votado no Senado

Inflação
O primeiro pacto proposto pela presidente é o da responsabilidade fiscal, "para garantir a estabilidade e o controle da inflação". Não foi dito como isso vai ser feito

Mobilidade
Dilma prometeu R$ 50 bilhões em recursos novos para investimentos em transporte público. Parte do dinheiro, no entanto, já foi prometida antes. Além disso, a liberação pode ser incompatível com a responsabilidade fiscal e o esforço para controlar a inflação

Meta 18
O presidente do STF e do CNJ, Joaquim Barbosa, disse que vai enviar ofício a todos os tribunais estaduais e federais cobrando o julgamento, até o fim do ano, de 121 mil processos de improbidade e crimes contra a administração pública. No meio jurídico, muitos acreditam que a meta não será cumprida

Voto aberto
O projeto que está na fila para ser aprovado acaba com o voto secreto apenas nos casos de cassação, ponto mais consensual entre os parlamentares. Eles se recusaram, por exemplo, a acabar com o sigilo nos casos de apreciação de veto presidencial. Na prática, continua havendo voto secreto no parlamento

Corrupção como crime hediondo
Estudos mostram que a transformação da corrupção em crime hediondo pode não significar a redução da corrupção. Além disso, o projeto aprovado no Senado deixa de fora do rol de hediondos crimes como lavagem de dinheiro, fraude em licitação e evasão de divisas

Proposta de passe livre para estudantes
Tramita no Senado projeto em regime de urgência que assegura gratuidade no transporte público para estudantes de instituições públicas e privadas. O texto é de autoria do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e a ideia é votá-lo antes do recesso de julho. Em relação à pauta da tarifa zero no transporte público, defendida nos protestos, Dilma já descartou a possibilidade

Redução de ministérios
Medida defendida após o início dos protestos, encontrará resistência no Palácio do Planalto. Hoje, existem 39 pastas. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, ironizou a proposta e sugeriu que os governos estaduais comecem cortando as secretarias

Cura gay
Embora os parlamentares prometam derrubar em plenário o projeto conhecido como Cura gay, a proposta não resolve a principal bandeira dos movimentos em defesa dos direitos humanos, que é a retirada do pastor Marco Feliciano do posto de presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.
 
Fonte:O Imparcial/Michel Sousa 
 Disponível em: http://www.oimparcial.com.br/app/noticia/politica/2013/07/05/interna_politica,137420/analista-politico-antonio-augusto-avalia-a-atual-conjuntura-politica-do-pais.shtml
Acessado em: 05/07/2013

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